No dia 27 de fevereiro de 2020, o portal de notícias i44
publicou uma matéria sobre a rotina das crianças que mantém contato frequente
com animais utilizados para um projeto educacional existente no colégio
Conexão, situado em Campo Mourão/PR, cidade onde eu nasci e atualmente
resido.
O texto abaixo é uma reflexão que fiz e, resolvi expor através da escrita, sobre os fatos contidos em uma reportagem que pode ser acessada através deste link: https://i44.com.br/noticias/2020/02/27/em-escola-de-campo-mourao-animais-fazem-parte-da-educacao-das-criancas/.
Trechos retirados da matéria: "O contato com os animais desenvolve o cognitivo, ambiental, social e o emocional, afirmou a educadora.
{...} Gabriela disse que dois meninos conversavam após o
almoço e um apressou o outro para tratar os bichos. Ele falou: ‘come logo, a
gente precisa cuidar dos animais. Eles estão com fome’.
{...} O carinho e o apego aos bichos na mini fazenda são
observados durante a atividade com a professora, no cuidado com a alimentação e
demonstrações de afeto"
Ao ler essa matéria e assistir ao vídeo eu me encantei com o
amor que essas crianças são capazes de demonstrar. No entanto, ao mesmo tempo,
me pergunto se a alimentação dada nessa escolinha é totalmente vegetariana,
visto que as crianças que cuidam dos animais estão sendo ensinadas a amá-los e
a criar empatia por eles.
Pela matéria, percebe-se que a educadora também citou sobre o
desenvolvimento cognitivo, emocional, ambiental e social que as crianças obtém
pelo contato com os animais.
A partir daí me surge uma dúvida. Que tipo de paradigma está
sendo criado na educação dessas crianças, se na escola é servido o cadáver
proveniente das mesmas espécies de animais que elas amam e cuidam com o maior
carinho, frequentemente?
O que está sendo ensinado seriam as diferentes formas que
podemos explorar os animais apenas para benefício humano? Alguns para
entretenimento e outros para o consumo de suas carnes de modo exacerbado?
Será que o menino que apressou o amiguinho para cuidar dos
animais na hora do almoço estava se alimentando de um cadáver de outro animal
inocente, sem necessidade? Estaria ele consciente disso?
No final, o que está sendo ensinado às crianças é como nós, animais humanos, podemos selecionar o restante dos animais para tipos variados de exploração em prol do nosso próprio benefício, afirmando através de nossas atitudes que a existência deles é destinada à servidão eterna?
Será que haverá um momento em que alguma dessas crianças vai perguntar a um adulto porque precisa comer animais, já
que pela convivência criaram empatia por eles e, com a resposta obtida, caso consiga entender toda a
hipocrisia por trás disso, ficará revoltada e desenvolverá sentimento de desesperança
em relação à espécie humana?
Mesmo com todos esses questionamentos, entendo que o ato de
comer animais mortos até hoje é costume e um comportamento cultural
praticado pelo ser humano, mas será que os pais desta geração assim como as
instituições de ensino públicas e privadas não possuem condições para refletir
sobre a hipocrisia prática que está sendo imposta à essas crianças?
Apesar disso, eu ainda apoio o contato direto das crianças com
os animais através dessas escolinhas que ainda servem animais mortos no
cardápio, pois se os pais dessas crianças e nem a instituição de ensino não
consideram a empatia mais importante do que o prazer obtido pelos seus paladares,
quem sabe as crianças desenvolvam essa empatia tão ausente nos dias atuais e
comecem a questionar o motivo pelo qual necessitam comer quem eles amam e foram
ensinados a respeitar (mesmo apenas quando lhes era conveniente)?
Conclusão: A esperança é de que, em alguns casos, o conhecimento do que é certo e justo seja obtido pela análise crítica de nós mesmos, através da observação das contradições humanas, desde o nascimento até a morte.
As nossas atitudes são e, sempre serão, uma responsabilidade individual com a nossa própria consciência, independentemente do que é apoiado e praticado pelos demais dentro de uma cultura dominante na sociedade.
Lembremos que, em épocas de escravidão e inexistência de direitos humanos, sempre existiram os que financiavam a prática da exploração de sua própria espécie, seja para trabalho ou para a satisfação de seus desejos sexuais, mas também existiam, apesar da escassez, pessoas que se recusavam a satisfazer seus desejos através da exploração de outras que eram consideradas inferiores.
Escravizamos os animais por afirmarmos que são irracionais e, portanto, inferiores.
Entretanto, apesar da racionalidade ser o fator principal para a distinção entre animais humanos e não humanos, ao mesmo tempo, é comum humanos utilizarem alguns de seus comportamentos instintivos que, evidentemente, estão mais ligados ao seu lado irracional, como argumento para não cessar a exploração dos animais não humanos.
Um dos maiores exemplos disso é o fato de nos permitir sermos escravizados por nosso próprio paladar, valendo-se de um de nossos sentidos como desculpa para continuar comendo os corpos dos animais.
Dessa forma, fundamentando nossas atitudes por meio de um comportamento relacionado ao nosso lado instintivo, que é o de obtermos prazer através do paladar, certamente nos deparamos estarmos mais próximo do nosso lado irracional do que o racional.
Qual o sentido de utilizarmos o mesmo argumento, que é o da irracionalidade, para inferiorizarmos os animais e, ao mesmo tempo, para negar a possibilidade de acabarmos com o sofrimento deles parando de explorá-los de formas até inimagináveis por alguns.
É motivo de orgulho à nossa espécie, sobrepor nossos prazeres obtidos com o paladar ao sofrimento que os demais animais passam para nos fornecer isso?
Nós humanos, nos auto-classificamos biologicamente como integrantes do reino animal, sendo assim, de alguma forma semelhantes ao restante dos animais.
Para honrar o título de racionais que nos auto-concebemos e fazer jus à lógica aristotélica que tanto admiramos, não devemos ser escravos de nenhum dos nossos cinco sentidos, mas vossos mentores.
Através dessa assimilação, simplesmente devemos sentir vergonha dessa hipocrisia e conviver com o medo que temos de conhecer a verdade buscando saber o que diariamente os animais passam em nossas mãos, ou agir para fazer justiça, saindo da nossa zona confortável e prestando muita atenção no que consumimos?
Ao conhecermos essa verdade, nosso sofrimento mental ativado pela empatia será maior do que o dos animais, mesmo tendo conhecimento de que estes têm seus corpos e sentimentos constantemente explorados sem quaisquer direitos, tratados como se fossem objetos que satisfazem os desejos econômicos e sexuais dos seres humanos?
Conclusão: A esperança é de que, em alguns casos, o conhecimento do que é certo e justo seja obtido pela análise crítica de nós mesmos, através da observação das contradições humanas, desde o nascimento até a morte.
As nossas atitudes são e, sempre serão, uma responsabilidade individual com a nossa própria consciência, independentemente do que é apoiado e praticado pelos demais dentro de uma cultura dominante na sociedade.
Lembremos que, em épocas de escravidão e inexistência de direitos humanos, sempre existiram os que financiavam a prática da exploração de sua própria espécie, seja para trabalho ou para a satisfação de seus desejos sexuais, mas também existiam, apesar da escassez, pessoas que se recusavam a satisfazer seus desejos através da exploração de outras que eram consideradas inferiores.
Escravizamos os animais por afirmarmos que são irracionais e, portanto, inferiores.
Entretanto, apesar da racionalidade ser o fator principal para a distinção entre animais humanos e não humanos, ao mesmo tempo, é comum humanos utilizarem alguns de seus comportamentos instintivos que, evidentemente, estão mais ligados ao seu lado irracional, como argumento para não cessar a exploração dos animais não humanos.
Um dos maiores exemplos disso é o fato de nos permitir sermos escravizados por nosso próprio paladar, valendo-se de um de nossos sentidos como desculpa para continuar comendo os corpos dos animais.
Dessa forma, fundamentando nossas atitudes por meio de um comportamento relacionado ao nosso lado instintivo, que é o de obtermos prazer através do paladar, certamente nos deparamos estarmos mais próximo do nosso lado irracional do que o racional.
Qual o sentido de utilizarmos o mesmo argumento, que é o da irracionalidade, para inferiorizarmos os animais e, ao mesmo tempo, para negar a possibilidade de acabarmos com o sofrimento deles parando de explorá-los de formas até inimagináveis por alguns.
É motivo de orgulho à nossa espécie, sobrepor nossos prazeres obtidos com o paladar ao sofrimento que os demais animais passam para nos fornecer isso?
Nós humanos, nos auto-classificamos biologicamente como integrantes do reino animal, sendo assim, de alguma forma semelhantes ao restante dos animais.
Para honrar o título de racionais que nos auto-concebemos e fazer jus à lógica aristotélica que tanto admiramos, não devemos ser escravos de nenhum dos nossos cinco sentidos, mas vossos mentores.
Através dessa assimilação, simplesmente devemos sentir vergonha dessa hipocrisia e conviver com o medo que temos de conhecer a verdade buscando saber o que diariamente os animais passam em nossas mãos, ou agir para fazer justiça, saindo da nossa zona confortável e prestando muita atenção no que consumimos?
Ao conhecermos essa verdade, nosso sofrimento mental ativado pela empatia será maior do que o dos animais, mesmo tendo conhecimento de que estes têm seus corpos e sentimentos constantemente explorados sem quaisquer direitos, tratados como se fossem objetos que satisfazem os desejos econômicos e sexuais dos seres humanos?
De que lado do que se tornará história no futuro, queremos
estar no presente?